No auge da sua crise adolescente, resolveu navegar na internet. Por horas vagou em páginas que não acrescentavam ou subtraíam nada, até que encontrou uma especial. Falava de pessoas sempre tristes. Identificação era tudo o que queria.
Devorou todo o site, o qual era bastante completo; um guia ilustrado de culto à tristeza. Indicava filmes, livros, músicas e até condições meteorológicas ideais para tanto. Comprou tudo, se deliciou com tudo. Ser triste era tão bom! Ansiava por um dia cinza que o traduzisse por inteiro, onde podia ser solitário e soturno da forma que lhe aprazia. Se orgulhava de si. Foi assim por anos.
Certo dia, um amigo o descreveu como uma pessoa alegre e engraçada. Aquilo o ofendeu profundamente: como poderiam achar semelhante coisa? Uma afronta! Rompeu com o amigo e o mandou a lugares desagradáveis junto da sua falta de perspicácia. Continuou sua vida.
Entretanto, aquela observação o perturbou. Ser alegre era algo ruim? Como poderia, se a tristeza o enchia de satisfação? Resolveu caminhar para pensar melhor.
Parou em uma sorveteria e pediu o seu sabor preferido. A massa era deliciosa, o sabor delicado, a cor viva, apesar de visivelmente artificial. Se fartou de sorvete, não conseguia parar. Aquele sorvete era tão bom!
Compreendeu. Correu de volta para casa.Marcadores: era uma vez...