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domingo, 21 de janeiro de 2007
#4: coitada.
No mesmo dia em que seus pés tocaram o chão da nova cidade, seus olhos percorreram os prédios da nova escola. A melhor da cidade, alunos e professores de alto nível.

Bastaram 10 minutos para que um coleguinha caçoasse da sua aparência. E por 10 anos isso se repetiu todos os dias. “Nem que você vista Chanel perde a cara de lavadeira”, ouviu na sua formatura.

Ela tentava melhorar, com muito afinco. Consultava personal stylists, lia revistas de moda. Até que a moda resolveu que o bonito era ser natural e ter seu próprio estilo.

Mal cabia em si de tanta felicidade. Não sabia o que fazer, era tanta energia que dava voltas pela casa. Contava os segundos para que chegasse a hora do trabalho e pudesse contar a novidade às colegas. Era praticamente uma vingança contra os anos de humilhações.

Quando falou as boas novas, houve um silêncio profundo por três segundos. Em seguida, ouviu uma chuva de felicitações e festejos. Quase explodia de contentamento, nunca havia sido tão feliz na sua vida.

Não tiveram coragem de dizer que ela era naturalmente feia e cafona. Coitada, né? Era uma boa pessoa.

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#3: corações.
Era delicioso recortar corações, a cada dia ficavam mais perfeitos. Não era mais necessário dobrar a folha ao meio para que ficassem simétricos. Era praticamente um talento inato.

Passava as tardes com a tesoura na mão. Criava corações de todos os tipos e tamanhos; de papel, tecido, plástico. Já havia tantos, tão lindos, que planejava vendê-los em escala industrial.

Quanto mais famosos ficavam, mais tempo passava em casa recortando. Era a sua realização como pessoa.

Ao acordar um dia, olhou pela janela e viu uma pipa contrastando com o céu azul. Era simples, um pouco mal feita. Mas voava!

Se levantou e jogou os corações no lixo. Foi inevitável.

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#2: identidade.
O moço procurava identificação em tudo. Chorava assistindo filmes que o traduziam, embriagava-se diariamente com as músicas que o (co)moviam. Em dias nublados e frios se encontrava, e era impossível conter o sorriso discreto.

Ele pensou que isso não era o suficiente. Queria mais, queria alguém. Dos livros passou às vidas. Todos os dias vasculhava alguém. Visitava vidas virtuais, procurava se inteirar das vidas reais de outras pessoas.

Certo dia conheceu uma moça. Aquela moça, que entendia perfeitamente seus pensamentos. Gostos idênticos, de sorriso em dias chuvosos. Perfeita.

Ele pôs as mãos nos bolsos, pensava enquanto olhava para ela. Decidiu que era melhor sair correndo, e foi o que fez.

“Santo Deus, como ela é igual!”.

Não olhou para trás.

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#1: umbigo
A moça tinha dois umbigos. Quem mais no mundo tem dois umbigos? Ninguém, apostava consigo mesma. Era uma monstruosidade. Mas ao menos uma monstruosidade que poderia ser encoberta. Literalmente.

A solução era simples: nada de blusas curtas, nada de colocar biquíni na praia. Dizia a seus amigos que tinha muitas cócegas nos pés para desviar a atenção da barriga. Vigiava constantemente suas roupas para que não aparecesse um centímetro sequer.

A moça era um prodígio e um grande ser humano. As boas ações saíam sem força, assim como a delicadeza e a elegância. Para os homens (e algumas mulheres), ela era a mulher ideal; não conseguiam atinar o motivo pelo qual ela não se relacionava com eles (ou com algumas ‘elas’).

Para a moça, bem… ela era um monstro.

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sábado, 20 de janeiro de 2007
(re)solução
OK jëntz, tive uma idéia pra solucionar o problema do post anterior: escreverei histórias.

Provavelmente muitos de vocês vão achá-las sem pé nem cabeça. Ou bobas. Mal escritas. Whatever. Mas vai ser uma forma de desabafar. Vou falar de coisas que vi, vivi ou ouvi sem identificações, olha só que lindo. E inventando várias coisinhas também, que é pro processo de investigação dos envolvidos não ficar tão fácil assim

É isso. Hoje à tarde escrevi três histórias, daqui a pouco as publico.




the unsaid.
Dizem por aí que o mundo é feito de aparências. Que o importante é o que você parece ser em vez do que é. Concordo em grande parte.

E por pensar isso acabo me prendendo na hora de escrever no blog. Não porque eu queira fingir ser quem não sou, justamente pelo contrário: por querer ser honesta, a grande maioria das coisas que penso em escrever aqui não é publicável. Não quero que “qualquer um” leia, e também não quero que certas pessoas caiam aqui e se interem de tudo. Não tenho nada corriqueiro pra contar (minha vida está cada vez mais emocionante), ou ao menos algo que ache interessante.

Por exemplo, perdi meu celular exatamente um ano após tê-lo comprado. Mas e daí? Não é com isso que eu tenho ocupado minha cabeça; tudo gira em torno do que eu vou fazer e do que vivi até agora. Um monte de dúvidas, insights e pensamentos quebrados que só poderiam ser entendidos se explicasse uma porção de coisas que simplesmente… não devem ser públicas. Meus amigos sabem, meus pais sabem, e é aí que deve parar.

Sabe, eu admiro muito pessoas que (aparentemente) são totalmente honestas nos seus blogs. Que falam tudo mesmo, e o resto que se foda. Se não gostar, que se foda. Não dá, eu não consigo.

Muitas das coisas que eu poderia dizer aqui soariam como ofensivas, invasivas ou indiscretas. E eu conquistei uma paz tão deliciosa na minha vida pessoal que não seria capaz de perdê-la porque sim. Foi suada, a duras penas e, por vezes, passando por cima dos meus próprios sentimentos que a atingi.

Não quero mais problemas, só quero ser deixada em paz. E vou tratar de arranjar um colete à prova de pessoas pra me ajudar nisso.



domingo, 14 de janeiro de 2007
bobagens top top
Eis que a sra. Amanda me encarregou de uma tarefa: listar cinco bobagens que me irritam e outras cinco que me fazem feliz. Pensei durante *dias* a respeito. Céus, como isso é difícil!

Enfim, achei a idéia bem legal, lembra bastante o Amélie Poulain. Tentei não ser muito óbvia (fiquei com medo de parecer as moças do post anterior), não dizer coisas do tipo “ai, odeio barulho de unha riscando a lousa” ou “ai, adoro achar dinheiro em bolsos”. Meio universal, né.

Então, aí vão:

Top 5 besteiras felizes
1. Bichos se espreguiçando. Existe coisa mais adorável que isso? Também adoro encontrar lagartixas por aí.
2. Bolhas que saem de garrafas de cerveja, shampoos, detergentes, etc. São lindas, talvez por serem tão efêmeras e imprevisíveis.
3. Música preferida tocando no rádio. Variação: uma super seleção aleatória do media player, que escolhe as músicas perfeitas para o momento.
4. Vegetais com formas engraçadas. Batatas, tomates, cenouras, chuchus e seus irmãos inclusos.
5. Luz amarelada de finais de tarde. Essa luz não acontece sempre, e eu nem saberia dizer se acontece em determinadas estações do ano. Só sei que é muito bonita e me traz lembranças muito boas.

Top 5 besteiras irritantes
1. Mão depois de pegar em giz. Me dá gastura, é horroroso, me desespera. Mão seca e escorregadia, ai não.
2. TV um decibel acima do que deveria. Variação: chiados na TV ou no rádio ou em qualquer outra coisa que emita sons. Pessoas inclusas, tipo a Cristiane Torloni.
3. Grafite acabando. Não escreve direito, fica saindo, se enfia na lapiseira ou quebra. Sem exceção.
4. Cheiro de cravo. Socorro.
5. . Se você tem dentes assim, desculpe, mas eu te odeio. Quer dizer, odeio seus dentes. Dica: pare de usar chupeta / mamadeira / whatever e se trate. Isso se chama “mordida aberta anterior”. Por favor.

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Teoricamente eu precisaria indicar mais 5 pessoas pra fazerem essas listas. Mas vou deixá-los livres, amiguinhos. Se quiserem fazer, façam. E me digam, claro!




esperteza.
E o Celso Portiolli disse:
- Em 1970, por ter conquistado o tricampeonato mundial, o Brasil teve o direito de ficar com a taça Jules Rimet. Porém, ela foi roubada. Em que ano isso aconteceu?

E as moças responderam:
- 1950
- 1969

Celso Portiolli continuou perguntando:
- Qual o maior peso que uma capivara pode atingir?

Falaram:
- 150 kg
- 200 kg

Passaram perto, han. Bem perto.




looking back.
Hoje peguei uns 30 pequenos álbuns de fotos para olhá-los pela milionésima vez. Fotos de antes de eu nascer, lugares em que moramos, datas importantes… A diferença é que hoje olhei com especial atenção para os segundos planos, detalhes, coisas que eu nunca tinha reparado antes.

É tanto o que a gente vai perdendo conforme o tempo passa, não? Os brinquedos preferidos, aquela blusa linda que perdi o botão, o dia em que machuquei o pulso, o quadro que pintei com o que deveriam ser um elefante e uma girafa… A família, os amigos que marcharam pra outro lado.

Pra qualquer lugar que eu olhasse hoje havia uma história diferente. Algumas aconteceram de verdade, outras imaginei, criei.

E a vida continua passando lá fora.



terça-feira, 2 de janeiro de 2007
so this is the new year (and I don’t feel any difference).
Não consegui ver a passagem de ano como um recomeço. Pelo menos não agora, 2007. O reveillon foi meio frustrante, mas não foi por isso. Não há o que tentar fazer melhor: será tudo inédito.

Pra mim, este ano será de decisões cruciais, como jamais aconteceu na minha vida. De dilemas profissionais a pessoais, todos os que você puder imaginar. Pode soar como uma reclamação ou medo, mas não é. Sério. Apesar de me deixar um pouco tensa, é totalmente suportável.

O que senti falta foi daquelas esperanças que costumavam me invadir em viradas de ano. Mesmo que fossem tolas, mesmo que soubesse que não faziam o menor sentido, mesmo que meus desejos fossem impossíveis… era bom. Era confortante.

Neste primeiro de janeiro, a única coisa que consegui pensar foi “que eu tenha sabedoria pra fazer as melhores escolhas”. Sem resoluções. Sem simpatias.

Só um suspiro.



 
Joyde G. M.
12/08/1984
Bióloga


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